quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Absurdos IV

Finalmente encostou a cabeça na almofada. Estava tão cansada que não conseguia adormecer. Incomodava-a o cabelo molhado dele a roçar no seu pescoço. Levantou-se e foi tomar banho. Pensou que água nenhuma neste mundo lhe conseguiria lavar a alma. Sentia-se conspurcada, e aquele cheiro a sexo não lhe saia do corpo. Teve vontade de lhe pedir que se fosse embora, mas era tarde. Quando voltou ao quarto já ele ressonava de tal forma estridente que lhe parecia que alguns dos móveis estremeciam. Vestiu os pijamas, agarrou o saco cama e foi-se deitar para o sofá. A noite pareceu-lhe estranhamente longa e o sofá demasiado desconfortável. Quando já lhe doía o pescoço e as costas decidiu fazer um chá, mas nada parecia acalmar aquela sensação de desconforto, aquela sensação de impureza. Prometera a si mesma que seria a última vez que dormia com um estranho. Quando o efeito do álcool começa a passar sentia-se sempre a pior pessoa do mundo, se é que efectivamente não a era. Aos olhos da maioria aquela situação era moralmente reprovável, mas por outro lado o moralmente reprovável deixou de a incomodar há muito tempo. Pode-se possuir um corpo mas, uma alma só alguns o conseguem. Possuir corpo e alma em simultâneo tornara-se de algum tempo a esta parte impossível. Acabou de fumar os últimos cigarros do maço de tabaco e aí o desespero começou a invadir-lhe a alma. Os primeiros raios de Sol teimavam em aparecer e aquele corpo mantinha-se estático na cama dela. Teve vontade de o expulsar a pontapé. Afinal aquela era a cama dela, era a casa dela e ele, ele era só um desconhecido.
Chegou à conclusão de que a sua vida era repleta de desconhecidos. Na realidade nunca conhecemos ninguém. Toda as pessoas têm um lado obscuro que nunca revelam. Ou seria só ela? Não. Estava convencida que não, se bem que no caso dela considerava que o seu lado negro era maior do que na maioria dos comuns mortais. Pouco ou nada revelava de si, no início fazia-o intencionalmente. De tanto o fazer agora não consegue agir de outra forma. Desconfia constantemente de tudo e todos, vive fechada única exclusivamente com os seus fantasmas. Os seus queridos fantasmas…

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