terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Absurdos - III

Sentado no café, tentado saborear o seu Johnnie Walker insistia em pôr-se à prova. "Vou fumar só um cigarro porque quero ver se consigo ser forte e não fumar mais nenhum!" - Saliente-se que havia deixado de fumar há uns meses. Por vezes eu tinha sérias dificuldades em acreditar nas suas palavras. Era-me difícil acreditar que existisse uma pessoa assim. Tinha nos olhos um brilho estranho que por vezes me fazia duvidar se seria deste mundo ou não. Por vezes abrandava o ritmo da conversa para tentar realinhar a respiração. Confesso que a sua falta de ar parecia só a mim me afligir, como se já estivesse habituado e se calhar já estava. Segundo me pareceu já não respirava há muito tempo.
Quando falou dela ganhou um ar mais humano. Um lado que acho que nem ele gosta de ter. Contava-me que todos os dias acordava pensando que ela estaria a seu lado. E que todos os dias sofria desalmadamente quando se apercebia que ele a havia deixado. Dizia-me que era a melhor forma de se sentir vivo. Era demasiadamente estranho. Preferia viver agarrado a uma realidade passada do que a sentir-se isento de sensações. Nunca conseguiria perceber isso. Por mais horas que ele passasse a explicar-me eu nunca iria querer entender.
É um ser humano demasiadamente particular. Obriga-nos a estar constantemente atentos, sob pena que perdermos uma qualquer revelação absoluta sobre o mundo. É cheio de certezas e ao mesmo tempo está envolto numa neblina de dúvida que parece exercer sobre ele um domínio superior a todas as certezas que possuí.
Não sei se o admiro ou se o desprezo.

2 comentários:

TR disse...

Bem, eu acho que essa personagem que aqui nos trazes sabe bem mais do que o que fica escrito. Sabe o que quer e que deve ser feito...
Divinal!
.::Telmo::.

Francis disse...

Eu nem uma coisa nem outra.

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